Trump associa paracetamol ao autismo e gera reação de cientistas e entidades

Em declaração polêmica feita nesta segunda-feira (22), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o paracetamol (conhecido comercialmente como Tylenol) seria responsável pelo aumento de casos de autismo no país. “Recomendamos fortemente que as mulheres limitem o uso de Tylenol durante a gravidez, a menos que seja clinicamente necessário”, disse Trump durante coletiva na Casa Branca.

O presidente também citou Cuba como exemplo: “Há outras partes do mundo que não têm Tylenol e não têm autismo. Isso já diz muito”, afirmou. Segundo ele, “em Cuba, virtualmente não há autismo”, pois o acesso ao medicamento seria limitado por questões econômicas.

As declarações provocaram forte reação da comunidade científica. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas divulgou nota reafirmando que o paracetamol é seguro durante a gestação e que doenças não tratadas representam riscos muito maiores. A Autism Science Foundation também negou qualquer evidência conclusiva que relacione o medicamento ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A repercussão negativa se estendeu a entidades de defesa de pessoas autistas. A Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (Autistas Brasil) classificou a fala como capacitista e sem embasamento científico. O vice-presidente da entidade, Arthur Ataide Ferreira Garcia, destacou que não existem ensaios clínicos robustos ou estudos populacionais que sustentem a tese, e considerou a declaração uma tentativa de transformar a condição autista em algo a ser combatido. A crítica foi reforçada por organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde e agências de saúde da União Europeia e do Reino Unido.

Christine M. Freitag, diretora do Hospital Universitário de Frankfurt, explicou que estudos amplos não demonstram efeito causal entre o uso do paracetamol na gestação e o autismo. “Há apenas um aumento mínimo no risco, e esse risco é poligênico — ou seja, envolve múltiplas variantes genéticas”, disse.

O neurocientista Geoff Bird, da Universidade de Oxford, reforçou que a ideia de encontrar uma causa única para o autismo até setembro, como sugerido pelo governo, “não é realista”. Ele destacou que cerca de 80% dos casos estão ligados a mutações genéticas hereditárias, embora fatores ambientais como poluição também estejam sob investigação.

Bird também apontou que o aumento nos diagnósticos pode estar relacionado à evolução dos critérios clínicos e à maior conscientização sobre o espectro autista. “Hoje diagnosticamos sinais mais sutis, inclusive em meninas, o que antes era raro”, afirmou.

A alegação de que vacinas causam autismo, também mencionada por figuras públicas no passado, foi novamente refutada. O Instituto Nacional de Saúde dos EUA e o CDC garantem que não há qualquer ligação entre imunizantes e o desenvolvimento do TEA.

Fabricantes de paracetamol, como a Kenvue, demonstraram preocupação com o impacto das declarações presidenciais sobre a saúde pública, especialmente entre gestantes.

Fonte: Acritica