A 77.ª edição dos Emmy Awards nos deixou um lembrete importante: as estatísticas são interessantes, mas, no fim de contas, os membros da Academia de Televisão seguem o seu próprio caminho. Goste ou não.
Desde o começo da corrida, a disputa pelo prêmio de melhor série dramática estava entre a segunda temporada de Ruptura, da Apple TV+, e a primeira temporada de The Pitt, da HBO Max — duas ótimas opções —, mas a maioria dos indicadores sugeria que a primeira venceria. Afinal, foi a série mais nomeada da temporada, com impressionantes 27 nomeações, mais do que o dobro das 13 de The Pitt.
E, no entanto… o prêmio de melhor série dramática foi para… The Pitt!
Embora acadêmicos terem simpatia por Adam Scott (astro de Ruptura), a ligação com Noah Wyle é mais antiga (ele foi astro de “Plantão Médico”, série dos anos de 1990), e muitos viram o seu regresso como uma espécie de “estória de Cinderela”. Foi o primeiro Emmy do ator.
As duas séries dividiram entre si os quatro prêmios de interpretação dramática: Britt Lower, de Ruptura — que nem sequer tinha sido nomeada na primeira temporada da série — venceu o Emmy de melhor atriz (lembrando que Kathy Bates era a única representante da televisão em canal aberto entre todos os nomeados de interpretação dramática).
Já Tramell Tillman ganhou o de melhor ator coadjuvante (superando dois colegas de elenco e três protagonistas de The White Lotus, da HBO). Foi a primeira vitória de um ator preto – e gay – na categoria.
A Apple TV+ deve ter ficado um pouco desiludida, porque, se Ruptura tivesse ganho melhor drama, numa noite em que The Studio conquistou melhor comédia, a plataforma teria sido a primeira a conquistar as duas principais categorias no mesmo ano desde 2016, quando a HBO o conseguiu com Game of Thrones e Veep.
Ainda assim, foi a melhor noite para a plataforma de streaming, com 22 vitórias, em grande parte graças a The Studio, uma série novata como The Pitt, que chegou com um recorde de 23 nomeações em estreia e dominou por completo o campo da comédia, arrecadando 13 prêmios (batendo o recorde de mais vitórias num único ano por uma comédia, que pertencia ao O Urso, da FX, com 11).
Entre eles, quatro foram para Seth Rogen — o primeiro a vencer Emmys, no mesmo ano, como produtor, roteirista e ator numa comédia.
Muita gente ainda não comprou a proposta de The Studio, porque é, essencialmente, uma sátira “para dentro de Hollywood”. (Pouco provável que a maioria das pessoas se importe com planos-sequência ou participações mega especiais de atores e diretores do primeiro time, como Martin Scorsese, Ron Howard, etc) Só que a maior parte dos votantes dos Emmys trabalha em Hollywood, e o prestígio da série é uma prova do quanto a indústria gosta de se ver representada.
A HBO Max também brilhou com Hacks, vencedora da melhor comédia no ano passado e igualmente centrada no mundo do espetáculo, levando este ano dois prêmios de interpretação: melhor atriz para Jean Smart (o quarto pelo papel, sétimo no total, entrando assim no restrito clube de atrizes com sete ou mais Emmys, ao lado de Allison Janney, Cloris Leachman, Julia Louis-Dreyfus e Mary Tyler Moore), e melhor atriz coadjuvante para Hannah Einbinder (a primeira vitória, considerada há muito merecida).
O último prêmio de interpretação em comédia — melhor ator coadjuvante — foi uma das maiores surpresas da história dos Emmys: Jeff Hiller, pela temporada final de Somebody Somewhere, da HBO. A sua nomeação já tinha sido inesperada, mas derrotar Ike Barinholtz (The Studio), Harrison Ford (Shrinking, da Apple TV+), Ebon Moss-Bachrach (O Urso), Colman Domingo (As Quatro Estações, da Netflix) e Bowen Yang (Saturday Night Live, da NBC), foi ainda mais chocante.
Se Somebody Somewhere foi suficientemente vista e apreciada para lhe valer o prêmio, então é incompreensível ter acumulado apenas duas nomeações ao longo de três temporadas. Mas ainda bem para Hiller, cuja vitória relembra que ninguém deve ser descartado antes de tempo.
As categorias de série limitada ou minissérie também desafiaram as estatísticas, embora de forma menos surpreendente.
O Pinguim, da HBO, chegou com 24 nomeações (a segunda série mais nomeada, apenas atrás de Ruptura), mas enfrentava um caminho difícil contra Adolescência, da Netflix, que tinha apenas 13 nomeações, mas conquistou o zeitgeist cultural de forma rara (como já tinha acontecido com outras vencedoras recentes da Netflix, A Rainha do Gambito em 2021, Treta em 2023 e Baby Rena em 2024).
Em todas as categorias principais em que concorreram diretamente, Adolescência superou O Pinguim: melhor minissérie, melhor ator (Stephen Graham sobre Colin Farrell, numa pequena surpresa), melhor atriz coadjuvante (Erin Doherty sobre Deirdre O’Connell), melhor direção e melhor roteiro. Além disso, Owen Cooper, de apenas 15 anos, tornou-se o mais jovem vencedor masculino de um Emmy de interpretação ao conquistar melhor ator coadjuvante. O único prêmio de destaque de O Pinguim foi melhor atriz para Cristin Milioti, justamente reconhecida.
Em tempo…
Alguém devia aconselhar a equipe de O Urso que as coisas não estão bem. Depois de ganhar 10 Emmys na primeira temporada e 11 na segunda, este ano não ganhou nada. Não foi por ter perdido qualidade (apesar de que, muita gente não gostou), mas porque, ao que tudo indica, a Academia se cansou de a ver submetida como comédia, quando claramente é um drama. No passado, outras séries como Shameless, da Showtime, e Orange Is the New Black, da Netflix, mudaram de categoria a meio da sua exibição.
Alias… The White Lotus, Black Mirror, Dying for Sex também não levaram nada, The Last Of Us ganhou um troféu por edição de som e Monster: The Lyle and Erik Menendez Story um por edição de imagens.
Fonte: Mondomoda









