A abertura do III Seminário de Segurança Inovadora na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) evidenciou a urgência e o crescente interesse por abordagens que transcendam a repressão pura e simples. O ponto alto da manhã foi a palestra “Inteligência e Segurança Pública”, ministrada pelo coronel da Polícia Militar de São Paulo (PMSP) José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública e uma das maiores autoridades brasileiras no tema.
Com vasta experiência internacional — tendo visitado forças policiais de mais de 25 estados norte-americanos, além da Polícia Metropolitana de Londres, Polícia Nacional da França, África do Sul, Buenos Aires e diversas instituições brasileiras —, o coronel compartilhou reflexões que provocaram intensos aplausos e anotações entre os presentes.
“As informações são importantes para todo mundo, e isso há muito tempo”, afirmou José Vicente. “Eu preciso conhecer os inimigos e também as minhas forças. A gente fica tentando conhecer os inimigos e deixa de conhecer nossos próprios problemas, nossas deficiências. Não é só falta de efetivo, mas é falta de efetivo com qualidade, com treinamento e supervisão. Nós estamos cuidando disso?”, questionou o coronel.
Em sua intervenção, exemplificou a importância da preparação estratégica com base em experiências reais. “Vocês já fizeram alguma simulação para um grande incêndio no aeroporto aqui de Manaus? Ou no Teatro Amazonas, por exemplo? Já pensaram em todas as possibilidades de um desastre como o que aconteceu na Catedral de Notre-Dame?”, provocou.
Com linguagem acessível, mas sem perder a contundência, o coronel concluiu. “Se você não conhece seu inimigo nem a si mesmo, é um problema.” E acrescentou. “O desafio da inteligência para prevenir o crime, no meu entendimento, é justamente pensar o cotidiano da redução dos crimes que ocorrem em nossas ruas. Em São Paulo, há o registro anual de cerca de 3 milhões de crimes — fora os que não são notificados. Esse é um enorme desafio, e custa caro. A nossa eficiência precisa lidar com esse custo. O delegado Humberto Freire mencionou as altíssimas taxas de custo e o impacto do crime ambiental, que gira em torno de 300 bilhões de dólares. Já o custo da criminalidade, ou melhor dizendo, da violência no Brasil, está na ordem de 150 bilhões de dólares”, declarou.
A programação seguiu com a palestra do coronel da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) Aurélio José Pelozato, que apresentou o “Protótipo Alpha 5.0 Ordem Pública PMSC”, abordando causas estruturais da violência, com foco em homicídios, feminicídios e violência doméstica — tema de extrema relevância no atual contexto da segurança pública brasileira.
Na sequência, a deputada estadual Alessandra Campelo (Podemos) apresentou as ações e dados do “Observatório da Mulher” da Assembleia Legislativa, ressaltando a importância da produção e análise de informações qualificadas para subsidiar políticas públicas voltadas à proteção das mulheres.
Ambas as exposições contribuíram para o aprofundamento do debate sobre segurança e enfrentamento da violência de gênero no Brasil, com enfoques que articulam tanto o campo operacional quanto o legislativo.
O seminário, que se estende até sexta-feira (30/5), conta com uma programação diversificada, abordando temas como planejamento urbanístico e design ambiental aplicados à segurança, municipalização das ações de prevenção, combate ao crime organizado e enfrentamento de facções transnacionais.
Promovida pela Comissão de Segurança da Aleam, presidida pelo deputado Comandante Dan (Podemos), e pela presidência da Casa, por meio do presidente da Aleam, deputado Roberto Cidade (UB), o III Seminário de Segurança Inovadora se consolida como um espaço estratégico para a formulação de políticas públicas integradas à complexidade da realidade amazônica.