A Polícia Civil do Amazonas prendeu, na manhã desta segunda-feira (19), a educadora física Sophia Livas de Morais Almeida, de 30 anos, acusada de se passar por médica e realizar atendimentos ilegais em Manaus, inclusive com crianças cardiopatas. A prisão preventiva foi efetuada durante uma operação que incluiu buscas na residência da suspeita, onde foram apreendidos documentos, crachás e receituários médicos que comprovam a farsa.
Sophia Almeida foi localizada em uma academia na Zona Centro-Sul da capital amazonense. Segundo o delegado Cícero Túlio, do 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), a mulher utilizava o nome e o registro profissional da médica Sophia Dib para emitir atestados e realizar consultas clandestinas. Ela chegou a receitar medicamentos a crianças com transtornos e problemas de saúde graves, apresentando-se como cardiologista pediátrica.
As investigações começaram após uma denúncia recebida no início de maio, pouco tempo depois da deflagração da Operação Hipócrates, que já havia revelado outro caso de falsidade médica em Manaus. Com base em relatos de vítimas e documentos falsificados, a polícia constatou que Sophia usava o nome da médica real — Sophia Dib, que atua no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) — para aplicar os golpes. A médica verdadeira foi alertada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) sobre o uso indevido de seu nome em atestados falsos.
Durante o inquérito, a polícia descobriu que Sophia emitiu pelo menos dois atestados fraudulentos com afastamentos de até 12 dias. Os documentos, impressos com o timbre do HUGV, resultaram na demissão de pacientes que usaram os atestados falsificados como justificativa no trabalho.
Mesmo sem qualquer formação médica, Sophia se apresentava nas redes sociais como “Dra. Sophia Livas” e afirmava ser especialista em cardiologia pediátrica. Embora tenha formação em Educação Física pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ela cursava um mestrado em Ciências da Saúde e usava isso como fachada para se infiltrar em ambientes acadêmicos e profissionais da área médica.
A farsa se estendeu até mesmo a eventos nacionais. A suspeita participou de um congresso de neurocirurgia em Brasília, tendo enganado organizadores, professores universitários e até autoridades políticas. Em uma das fotos do evento, ela aparece ao lado do deputado federal Fausto Júnior (União Brasil), apontado no relatório policial como uma das pessoas ludibriadas por Sophia.
No dia 1º de maio, após ser desmascarada nas redes sociais, Sophia tentou reverter a situação e registrou um boletim de ocorrência com informações falsas, numa tentativa de convencer colegas e médicos de que estava sendo alvo de difamação. Segundo a polícia, a ação fazia parte de uma estratégia para manter as aparências.
Professores ligados a projetos de pós-graduação da Faculdade de Medicina da Ufam também foram enganados. Eles acreditavam que Sophia era médica e relataram à polícia que só descobriram a verdade após a repercussão do caso. Uma das professoras disse sentir-se “usada” e confirmou que a mulher alegava ser sobrinha do prefeito de Manaus.
Sophia ainda teria afirmado que havia se formado pela Universidade Nilton Lins, apresentando até um histórico escolar falsificado. No entanto, a instituição informou oficialmente que a suspeita nunca foi aluna do curso de Medicina.
Além dos relatos acadêmicos, um pai relatou à polícia que seus dois filhos autistas foram atendidos por Sophia em um consultório particular. Ele afirmou que a mulher usava o nome de Sophia Dib e chegou a prescrever medicamentos para as crianças.
Diante das evidências, a Polícia Civil indiciou Sophia Almeida por uma série de crimes, incluindo exercício ilegal da medicina, falsidade ideológica, charlatanismo, curandeirismo, falsa identidade, falsificação de documentos e estelionato contra vulneráveis.
As investigações seguem em andamento para apurar o número total de vítimas e dimensionar o impacto da atuação criminosa da falsa médica.
