Miss trans diz que foi deixada em porta-malas após abuso de delegado

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Goiânia – A ex miss trans Jade Fernandes, de 23 anos, que denuncia ter sido estuprada pelo delegado Kleyton Manoel Dias, acredita que foi dopada antes do abuso. Em coletiva de imprensa, a modelo relatou que a violência sexual aconteceu dentro do porta-malas do carro do delegado, onde ficou até que chegasse em casa.

Segundo Jade, ela não consegue se lembrar de todos os momentos desde quando saiu da boate, acompanhada do investigador, na última sexta-feira (5/1), até alguns minutos dentro do carro dele. A defesa de Jade informou que um exame pericial comprova que houve conjunção carnal na data do crime.

Outro exame, cujo objetivo é identificar se a vítima foi ou não dopada, terá o resultado apresentado em até 30 dias.

“Boneca”

De acordo com Jade, ela estava em uma boate de Goiânia, na última sexta-feira (5/1), onde comemorava o aniversário de um jornalista que é amigo dela, quando conheceu o delegado, que também era convidado da festa. Ao final, ela, o investigador e uma outra mulher combinaram de ir para outro local.

Segundo ela, Kleyton ofereceu carona até o novo estabelecimento. Dentro do carro, a mulher perguntou à Jade se ela era uma mulher ou um homem e ela teria respondido que era “boneca”.

Depois da resposta, ela afirmou que houve uma mudança de comportamento do delegado, que decidiu cancelar a continuidade da noite e se ofereceu para deixar as duas mulheres em casa.

A outra mulher foi deixada no bairro Jardim Novo Mundo. Depois, o delegado seguiu em direção a casa de Jade, no Setor Jaó. A vítima disse que não se lembra de todo trajeto, no entanto, aponta que em determinado momento, o delegado parou o carro em um local escuro e pouco movimentado e perguntou sobre o que fariam e ela afirma ter dito que iria para casa.

Segundo Jade, foi neste momento que o investigador forçou e deu início aos abusos. Ela negou as investidas do delegado, que a levou até o porta-malas do carro e praticou o estupro. Jade continuou dentro do porta-malas do carro até o delegado parar em frente a casa dela.

Ferimentos na miss

À TV Anhanguera, o amigo que mora com Jade, Ricardo Amaral Dias, contou que ela chegou em casa dopada e bastante ferida. Ele chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a vítima foi levada para um hospital, onde recebeu atendimento médico.

“Não consigo dormir. Tem uns três dias que eu não durmo, nem tomando medicamento. Continuo sangrando, machucada. Estou tomando analgésico”, disse.

Ainda segundo Jade, essa não foi a primeira vez que sofreu um estupro, no entanto, decidiu fazer a denúncia.

“A mulher que eu me tornei foi para ter uma voz muito maior do que qualquer outra coisa […] não podia me deixar passar mais por qualquer tipo de preconceito ou violência. Outras mulheres e tantas outras mulheres transexuais passam por isso e têm medo de retaliação, mas agora chega. A gente está cansado”, lamentou.

Medida protetiva

Jade conseguiu uma medida protetiva contra o delegado Kleyton Manoel. A medida foi concedida pelo juiz plantonista Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro.

No documento emitido pelo TJGO, o juiz determinou que o delegado permaneça a uma distância mínima de 300 metros de Jade e de seus familiares, sem qualquer tentativa de aproximação; não entre em contato com ela ou seus familiares por qualquer meio de comunicação (telefone, WhatsApp, e-mail e outros) e não frequente os mesmos locais.

Ainda durante a coletiva, a defesa de Jade disse já estar sofrendo retaliações, porém, não deu mais detalhes.

Afastamento

Kleyton Manoel Dias foi afastado de suas funções e passou a atuar em uma unidade administrativa. Segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO), assim que tomou conhecimento do caso, a corporação adotou todas as medidas necessárias para o esclarecimento da situação.

Em nota, o delegado disse que repudia as acusações e que se coloca à disposição das autoridades na investigação do caso. Kleyton também disse que “irá provar sua inocência” e que está “muito abalado com o ocorrido”.

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