A administração Oceânica e Atmosférica Americana (NOAA) atualizou em março de 2023 suas previsões, indicando 90% a chance do fenômeno El Niño ocorrer com forte intensidade no segundo semestre do ano. Para a Amazônia, isso significou uma temporada de seca, altas temperaturas e riscos de incêndios florestais e cenários devastadores. Não à toa, aumentou para 12 o número de municípios em situação de emergência hídrica, segundo informações do Secretário, Francisco Máximo, da Defesa Civil.
Em entrevista concedida na quinta-feira (21) para a TV local, o político afirmou que 100 mil pessoas são afetadas diariamente pela estiagem. Na calha do Alto Solimões, estão em situação de emergência os municípios de Benjamin Constant, Amaturá, São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Içá; na calha do Juruá, estão Ipixuna, Envira, Itamarati e Eirunepé; e no Médio Solimões, a estiagem severa atinge Coari, Tefé, Jutaí e Uarini.
A descida da água é considerada “normal” em apenas três cidades. Segundo especialistas, o desenvolvimento do El Niño levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes de temperatura. Para remediar a situação, no dia 12 de setembro, o Governo do Amazonas lançou a Operação Estiagem 2023 e anunciou ações de emergência aos municípios afetados.
Fernando Silva, sócio fundador da PWTech, explica que o problema permeia diversos fatores importantes na vida das comunidades ribeirinhas. “As altas temperaturas têm acelerado a evaporação das fontes de água, reduzindo os níveis dos rios e privando esses moradores de seu principal meio de transporte. As mudanças climáticas também afetam a qualidade da água, tornando-a mais suscetível à contaminação e facilitando a escassez de água potável”.
Dados da Seduc-AM (Secretaria de Educação do Amazonas), apontam que a seca já atinge 355 estudantes de colégios públicos do estado. O setor industrial já avalia haver um aumento de 40% a 50% no custo do transporte de insumos e distribuição de produtos do Polo Industrial de Manaus, devido ao período de estiagem severa. Hoje, o serviço geológico brasileiro, sinaliza que essa é a segunda pior seca na região do Alto Solimões em dez anos.
“Essa situação envolve a inacessibilidade de algumas comunidades devido à incapacidade dos barcos de alcançá-las, o que acarreta riscos significativos de escassez de alimentos e dificulta a locomoção às escolas, uma vez que o transporte por via fluvial era a principal via utilizada anteriormente. A interrupção desse meio essencial representa não apenas um obstáculo à educação, mas também uma ameaça direta à segurança alimentar e ao bem-estar dessas comunidades”, explica o especialista.