Presbifonia: como lidar com o envelhecimento da voz

Dra. Cristiane Romano

Cantores, atores, palestrantes, dubladores e locutores. Estes são apenas alguns exemplos de profissionais cuja voz é o carro-chefe de suas carreiras. Agora, imagine quando essa ferramenta indispensável começa a falhar.

“Com o tempo, a voz perde força, velocidade, estabilidade e precisão articulatória, fazendo com que a qualidade vocal seja prejudicada. Esta condição se chama presbifonia, que indica o envelhecimento natural da voz. Um dos primeiros sintomas pode aparecer na voz cantada, em que se perde a capacidade de modulação da voz, com diminuição na produção de sons agudos e redução da capacidade expiratória, enfraquecendo a extensão vocal”, afirma a Dra. Cristiane Romano, fonoaudióloga, Mestre e Doutora em Ciências e Expressividade pela USP, e especialista em Oratória, também pela USP.

Segundo estudos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a presbifonia começa a partir dos 50 anos de idade, podendo ser mais acentuada de acordo com o estilo de vida e histórico de cada paciente. Em mulheres, o envelhecimento da voz costuma acontecer a partir da menopausa. Ainda segundo os estudos, cerca de 10% dos idosos irá apresentar algum tipo de alteração vocal.

Como ocorre a presbifonia

A voz é produzida na laringe, onde se encontram as pregas vocais, que vibram a partir da passagem do ar vindo dos pulmões. A voz, então, é finalizada por lábios, língua, palato e nariz.

Com o passar dos anos, os músculos da laringe sofrem flacidez na musculatura, rigidez das cartilagens e redução da lubrificação na região, tornando a voz trêmula, rouca e com pouca projeção. Somado a isso, há alterações estruturais nas pregas vocais, como atrofia das glândulas salivares, provocando dificuldade na articulação por diminuição de saliva.

Prevenção e tratamento

O diagnóstico da presbifonia é realizado por meio de exames, como a laringoscopia e avaliações da voz e pronúncia. Entretanto, nem todas as pessoas desenvolvem a presbifonia de modo acentuado. Fatores como saúde física, condições emocionais e hábitos de vida podem interferir nesse processo.

“De fato, alguns comportamentos podem envelhecer a voz precocemente, como gritar, falar num tom de voz que não é o seu habitual, uso excessivo da voz sem aquecimento prévio, alimentação que provoca refluxo gastroesofágico, baixa ingestão de água, além da interferência de fatores hereditários, ambientais e psicológicos”, frisa a fonoaudióloga.

Porém, há medidas que podem minimizar os impactos do envelhecimento da voz:

– Beba água com bastante frequência

– Mantenha sempre uma postura corporal adequada

– Evite falar muito alto e gritar

– Evite exposição excessiva ao ar condicionado

– Evite permanecer em áreas muito poluídas

– Não fume

– Evite pigarrear

– Evite bebidas alcoólicas

– Não force a sua voz

– Adote hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e exercícios físicos regulares

– Pratique o aquecimento. Alguns exercícios técnicos funcionam como uma ginástica vocal e auxiliam na manutenção e vibração da voz, como falar as vogais “aaaaaa”, “iiiiiiii” e “uuuuuuu”, e também as consoantes “rrrrrrrr” e “zzzzzz”.

“Para muitas pessoas, a presbifonia prejudica a vida social e/ou profissional, por conta do esforço para se comunicar. Lembrando que não se trata de uma doença, mas de uma reação natural do organismo e que pode ser controlada com os cuidados citados. Ao perceber alterações na voz, procure um profissional especializado. Até porque os sintomas podem significar algo mais preocupante do que o inevitável envelhecimento da voz”, finaliza Cristiane Romano.