Numa viagem à Carolina do Norte, o presidente dos EUA, Donald Trump, estimulou os eleitores a votar duas vezes, primeiro por correspondência e depois presencialmente, para testar o sistema eleitoral.
A prática é considerada fraude no estado —onde incitar pessoas a duplicar o voto também é ilegal.
“Deixe que enviem [o voto por correspondência] e deixe que vão votar”, disse o republicano na quarta-feira (2) durante um evento de campanha em Wilmington. “Se o sistema for tão bom quando dizem, então não vão conseguir votar presencialmente.”
Trump se referiu ao sistema de registros que vários estados utilizam para impedir que uma pessoa que enviou um voto por correspondência vote novamente.
Na quinta (3), ele reiterou o pedido no Twitter, dizendo que os eleitores deveriam comparecer às urnas no dia da votação para se certificar de que seu voto por correspondência foi contabilizado.
Se não foi, o eleitor deveria votar presencialmente para garantir que seu voto não seja “destruído, perdido ou jogado fora”, escreveu o republicano, que disputa a reeleição em novembro, contra o democrata Joe Biden.
As publicações foram ocultadas pelo Twitter por violar as políticas de “integridade cívica e eleitoral”. A rede social já ocultou diversas publicações do presidente, incluindo uma pela mesma razão, quando Trump disse que caixas de correio utilizadas em votação por correspondência não são higienizadas contra o coronavírus.
Um vídeo em que o republicano pede que pessoas votem duas vezes publicado no Facebook recebeu um aviso da rede social de que o voto por correspondência “tem um longo histórico de confiabilidade nos EUA”.
Assim como na Carolina do Norte, votar duas vezes é crime em diversos estados americanos. Segundo Patrick Gannon, porta-voz do conselho eleitoral da Carolina do Norte, o voto registrado primeiro é o que conta.
“Se alguém vota por correspondência, mas a cédula ainda não chegou, e por isso vota em pessoa, o voto pelo correio é declarado inválido”, disse.
De acordo com o conselho eleitoral, o eleitor é notificado se houver qualquer problema com seu voto por correspondência antes da eleição, como o preenchimento incorreto da cédula. Se notificado, tem a opção de corrigir o erro ou de votar presencialmente.
O presidente tem questionado a legitimidade do voto por correspondência, sugerindo que sua expansão, proposta por diversos estados em razão da pandemia de coronavírus, levará a fraudes. O republicano não apresenta provas.
No dia 18 de agosto, o diretor do serviço postal dos EUA, Louis DeJoy, anunciou que adiaria uma série de cortes nos correios após democratas acusarem a medida de tentar dificultar o voto por correspondência. DeJoy é um conhecido doador de campanhas republicanas.
O voto a distância é comum nos EUA e usado há anos por membros das forças armadas em postos no exterior, sem problemas. Nas eleições de 2016, 25% dos votos foram por correspondência, e o próprio Trump votou assim.
O advogado-geral da Carolina do Norte, Josh Stein, do partido Democrata, escreveu no Twitter que Trump encorajou eleitores a “quebrar a lei a fim de ajudá-lo a semear o caos na nossa eleição”.
“Vote, mas não vote duas vezes! Farei tudo ao meu alcance para garantir que a vontade do povo seja respeitada em novembro”, disse Stein.








