O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) notificou as autoridades de saúde pública de todos os 50 estados e de cinco grandes cidades para se prepararem para distribuir uma vacina contra o coronavírus para profissionais de saúde e outros grupos de alto risco já no final de outubro ou início de novembro.
Os documentos foram enviados no mesmo dia em que o presidente Donald Trump afirmou em um discurso na Convenção Nacional Republicana que uma vacina poderia chegar antes do final do ano, o que aumentou as preocupações de que seu governo esteja tentando apressar a distribuição de uma vacina —ou simplesmente anunciar que isso é possível— antes das eleições de 3 de novembro.
Na semana passada, Anthony Fauci, o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA, e Stephen Hahn, que dirige a Food and Drug Administration (FDA, a agência nacional reguladora de medicamentos), disseram em entrevistas que uma vacina poderia estar disponível para certos grupos antes dos ensaios clínicos serem concluídos, caso os dados preliminares sejam extremamente promissores.
“Este cronograma de implantação inicial para o final de outubro é profundamente preocupante para a politização da saúde pública e as potenciais ramificações de segurança”, disse Saskia Popescu, epidemiologista de prevenção de infecções baseada no Arizona. “É difícil não ver isso como um incentivo para uma vacina pré-eleição.”
Especialistas em saúde pública concordam que órgãos de todos os níveis de governo devem se preparar urgentemente para o que será um esforço vasto e complexo para vacinar centenas de milhões de americanos.
Para uma gestão que tem tropeçado nos desafios logísticos para conter o coronavírus, a distribuição de milhões de vacinas que devem ser armazenadas em temperaturas abaixo de zero e fornecidas primeiro a grupos de alto risco por meio do sistema de saúde fragmentado e falho dos Estados Unidos seria um desafio assustador.
A própria orientação do CDC reconhece que seu plano é hipotético e baseado na necessidade de começar imediatamente a organizar o gigantesco esforço que seria necessário caso a FDA aprovasse uma ou duas vacinas neste ano.
Os ensaios que testam a eficácia de uma vacina podem levar anos para produzir resultados confiáveis. É possível tirar conclusões mais cedo “se houver uma reação determinante” que mostre que pessoas vacinadas parecem estar muito mais protegidas contra a doença, disse Padmini Pillai, imunologista do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que desenvolve pesquisas sobre vacinas.
Mas pode haver riscos significativos na aprovação de uma vacina para amplo uso no público antes que os ensaios clínicos de fase 3, que envolvem dezenas de milhares de participantes, sejam concluídos. Efeitos colaterais raros, mas perigosos, podem surgir com o tempo, após um grande número de pessoas terem sido vacinadas.
Além disso, os dados coletados na fase inicial de testes podem mudar à medida que o processo avança. Os pesquisadores também precisam de tempo para testar um grande número de pessoas de várias origens para determinar o quão bem a vacina funciona em diferentes populações —incluindo as comunidades vulneráveis priorizadas nas diretrizes.
Se algum desses empecilhos ocorrer, disse Pillai, o público pode não confiar plenamente na vacina. Com informações de Folha de S.Paulo.








