O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi informado com antecedência sobre a Operação Furna da Onça, que levantou acusações de desvio de dinheiro público por Fabrício Queiroz, ex-funcionário de Flávio em seu gabinete de deputado estadual no Rio. É o que afirma o empresário Paulo Marinho, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo deste domingo 17.
Segundo Marinho, que é suplente de Flávio no Senado, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lhe contou ter sido informado por um delegado da Polícia Federal do Rio de Janeiro sobre a operação entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2018.
O empresário, então um importante apoiador da campanha presidencial de Bolsonaro, alega que, de acordo com relatos de Flávio, o delegado adiou a deflagração da operação para que a campanha do ex-capitão não fosse atrapalhada. O mesmo delegado orientou o senador a demitir Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro em Brasília. Os dois foram exonerados em 15 de outubro de 2018.
Ainda segundo Marinho, atual pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB, Flávio lhe pediu uma indicação de um advogado criminalista e estava “transtornado” quando lhe contou a história. Flávio também teria tido acesso aos registros da conta bancária de Queiroz com as movimentações suspeitas que estavam sendo investigadas, após receber a informação da PF.
“No dia 12 de dezembro, uma quarta-feira, me liga o senador Flávio Bolsonaro me dizendo que queria falar comigo, por sugestão do pai.
A Operação Furna da Onça já tinha sido detonada e trazido à tona o episódio do Queiroz. Flávio estava sendo bombardeado pela mídia. O Queiroz estava sumido. Ele me disse: ‘Gostaria que você me indicasse um advogado criminalista’. E combinamos de ele vir à minha casa às 8h do dia seguinte, uma quinta-feira, 13 de dezembro. Passei a mão no telefone e liguei para o advogado Antônio Pitombo, de São Paulo, indicado por mim para defender o capitão no processo da [deputada] Maria do Rosário no STF [Supremo Tribunal Federal]. E ele me indicou um advogado de confiança, Christiano Fragoso, aqui do Rio.
No dia seguinte, quinta-feira, 13, às 8h30, chegam na minha casa Flávio Bolsonaro e o advogado Victor Alves, que trabalha até hoje no gabinete do Flávio, é advogado de confiança dele. Estávamos eu, Christiano Fragoso, Victor e Flávio Bolsonaro. Flávio começa a nos relatar o episódio Queiroz. Ele estava absolutamente transtornado.
E esse advogado, Victor, dizendo ao advogado Christiano que tinha conversado com o Queiroz na véspera e que o Queiroz tinha dado a ele acesso às contas bancárias para ele checar as acusações que pesavam contra o Queiroz.
E Flávio então nos conta a seguinte história: uma semana depois do primeiro turno, o ex-coronel [Miguel] Braga, atual chefe de gabinete dele no Senado, tinha recebido o telefonema de um delegado da Polícia Federal do Rio de Janeiro, dizendo que tinha um assunto do interesse dele, Flávio, e que ele gostaria de falar com o senador. O senador contou que disse ao coronel Braga que se encontrasse com essa pessoa [o delegado] para saber do que se tratava. Estava curioso. E aí marcaram um encontro com esse delegado na porta da Superintendência da Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro.”
Segundo Marinho, teriam ido ao encontro o coronel Braga, Alves e Val Meliga, irmã de dois milicianos presos na Operação Quatro Elementos.
“Eles foram para a porta da Polícia Federal. O delegado saiu de dentro da superintendência. Na calçada —eu estou contando o que eles me relataram—, o delegado falou: ‘Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz [Nathalia], que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro [que ainda era deputado federal] em Brasília’.