O futuro chanceler, Ernesto Araújo, pretende começar seu período à frente do Ministério das Relações Exteriores com uma caça às bruxas. O nome de Araújo foi recebido com estupefação há uma semana, pois ele defende teses como a de que o nazismo seria uma “ideologia de esquerda” e um alinhamento automático e integral com a política externa dos Estados Unidos.
O anúncio do novo tempo foi feito pelo Twitter. Araújo já tem o alvo definido: o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve à frente da pasta ao logo dos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi apontado como o melhor chanceler do mundo pela revista Foreign Policy.
Segundo Araújo, será feito um exame minucioso em busca de “possíveis falcatruas”.
A reação de Araújo veio na esteira das críticas feitas por Celso Amorim no último final de semana, quando o ex-chanceler afirmou que a implantação das ideias do ministro de Bolsonaro à frente do Ministério das Relações Exteriores equivaleria a um retorno à Idade Média. “Não entendi se é crítica ou elogio, mas informo que não retornaremos à Idade Média, pois temos muito a fazer por aqui, a começar por um exame minucioso da “política externa ativa e altiva” em busca de possíveis falcatruas”, postou Araújo.
O futuro ministro, cuja escolha surpreendeu o mundo diplomático, tanto em função de sua inexperiência à frente cargos diplomáticos relevantes, como pelas suas ideias no tocante à política externa, disse ainda que o futuro governo terá os “pés no chão”. “Não se preocupem. O Brasil terá os pés no chão. Na nova política externa, vamos negociar bons acordos comerciais, atrair investimentos e tecnologia. Terá os pés no chão, mas a cabeça erguida!”, destacou. Segundo ele, a política externa brasileira “não ficará de quatro diante das ditaduras”, e nem terá “a cabeça enfiada na terra para não ver o grande embate mundial entre o globalismo e a liberdade.”
Amorim, que ficou à frente do Ministério das Relações Exteriores entre 2003 e 2011, foi responsável pela implementação da chamada “política externa ativa e altiva”, que priorizou as relações diplomáticas e comerciais com os países da América do Sul, África e os emergentes, no que foi chamado de política Sul- Sul. Este viés diplomático colocou o Brasil como um dos principais atores de blocos como o G-20, que reúne as 10 maiores economias do mundo, e abriu mercados como os do Oriente Médio à produtos brasileiros, com destaque para setor do agronegócio.
Apesar de ainda não ter assumido o governo, Bolsonaro já colocou em xeque as exportações brasileiras para o Oriente Médio ao anunciar a intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que desagradou os países árabes e levou o Egito a suspender uma reunião com representantes do Brasil. O alinhamento automático com a política externa dos EUA também tem sido alvo de fortes críticas internas e externas.