O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro da capital paulista, recebe a partir de hoje (28) a exposição Ex Africa, com mais de 90 trabalhos de 18 artistas contemporâneos de oito países do continente africano, além de dois brasileiros.
Logo na entrada do prédio os visitantes são recepcionados por uma instalação do ganês Ibrahim Mahama que ultrapassa a altura do teto e quase chega ao primeiro andar através do vão interno do prédio. A obra é uma montanha de caixas de madeira, algumas usadas para transportar frutas e outras de engraxate, decoradas com calçados usados e retalhos de tecido. Segundo o curador, Alfons Hug, o trabalho mostra “uma certa precariedade da vida urbana”.
A existência nas cidades é um dos eixos da expo. A capital da África do Sul, Joanesburgo, aparece através das janelas de um enorme edifício construído para ser um local de luxo, mas que acabou se degradando em moradias faveladas. As fotografias de Mikhael Subotzky dão uma ideia de como é a vida das pessoas que residem ali.
Tradição e colonização
Mais próximo das tradições, o nigeriano Jelili Atiku trouxe para a mostra uma performance fortemente influenciada pela cultura Yorubá. O artista encenará um ritual de limpeza do corpo, para remover, segundo ele, os males trazidos pela Conferência do Congo, quando as nações europeias desenharam, no século 19, as fronteiras dos países africanos. As delimitações, que não respeitaram a ocupação dos povos no território, visavam facilitar a dominação colonial e acabaram se tornando fonte de diversos conflitos desde então. “É uma limpeza das atrocidades contra a África”, disse Atiku.
O performer usa objetos confeccionados com tecidos de roupas usadas doadas para o trabalho. O nigeriano diz que essa é uma forma de trazer consigo outras forças. “A performance não é só feita por mim, mas também pela energia das pessoas”, diz em referência às roupas que ele acredita carregar traços dos antigos donos.
As questões relativas à colonização também constam dos trabalhos do brasileiro Arjan Martins, que exibe uma série de pinturas com referências às navegações. Já o senegalês Omar Victor Diop usa a linguagem da fotografia de moda para recriar, tendo ele mesmo como modelo, retratos de figuras notáveis da África que conseguiram posições de destaque na Europa nos séculos 18 e 19. “O poder de persuasão e sedução dessas imagens vem do mundo fashion”, enfatiza o curador.
A música também tem destaque na Ex Africa, como na instalação com videoclipes selecionados pelo produtor musical Naija Pop. A seleção com músicas que tocam nas ruas nigerianas foi feita a partir de quatro eixos temáticos: religião, sexo, poder e dinheiro. A sala é ambientada com os sons do tráfego e as vozes das pessoas que circulam pelas calçadas de Lagos, capital da Nigéria.
A exposição Ex Africa pode ser vista gratuitamente até o dia 18 de julho, de quarta a segunda-feira, das 9h as 21h. O CCBB fica Rua Álvares Penteado, 112, próximo à Praça da Sé.