Fiéis vão às ruas no Rio demonstrar devoção à São Jorge

Como tradicionalmente ocorre no dia 23 de abril, uma multidão saiu às ruas do Rio de Janeiro para manifestar devoção à São Jorge. A data é feriado estadual e os fiéis organizam festejos em diversos pontos da capital, onde os enfeites colorem as vias de vermelho e branco. A mais popular ocorre em Quintino, na zona norte. Ali, a Paróquia de São Jorge realiza missas de hora em hora. Às 10h, a celebração foi conduzida pelo bispo Dom Orani João Tempesta.

Diante da volume de pessoas, porém, não é fácil acessar o interior do local do culto. Por esta razão, um telão é instalado do lado de fora. “Diferente dos últimos anos, não consegui entrar dessa vez porque estava muito cheio. Eu tenho uma ligação com São Jorge há muito tempo, mas devota mesmo faz uns três anos. E eu estou muito feliz”, dizia a comerciante Carol França, que carregava na mão uma escultura em gesso do santo.

Do lado de fora da paróquia, as celebrações eram acompanhadas por pessoas que se confraternizavam com comes e bebes. Os presentes também estimulavam um farto comércio, com camisas, panos, chapéus, medalhões e outros artigos com a imagem de São Jorge. Diversas pessoas vinham de longe. O motorista aposentado Messias de Assis chegou à cidade na quarta-feira (18). Ele saiu de Belo Horizonte só para participar dos festejos. “É o primeiro ano que venho, mas já quero voltar ano que vem. É o santo das causas justas e que protege as pessoas. Nunca tive uma graça dele ainda, mas espero um dia ter. Só dele me dar saúde para estar aqui no Rio, já está valendo”.

As celebrações começaram cedo. A primeira missa teve início ainda de madrugada, às 3h30. A missa da alvorada, às 5h, foi acompanhada da já tradicional queima de fogos. Às 15h, começou a apresentação de 90 ritmistas da escola de samba Império Serrano, que tem São Jorge como padroeiro. A agremiação também irá prestar homenagem à compositora Dona Ivone Lara, falecida na semana passada. Com a camisa da escola verde e branca, o servente de obras Geovani Rocha Gomes chegou cedo para aguardar a bateria.

“Sou nascido e criado em Madureira e devoto como todo imperiano. Mas, de modo geral, o carioca está com São Jorge independentemente da escola de samba. Para a maioria dos sambistas, com todo respeito aos outros santos, mas São Jorge é o mais popular. É um guerreiro igual a nós. Estamos sempre recorrendo a ele, no trabalho, na condução, no dia a dia, em casa. Com essas notícias de bala perdida, assalto, só ele mesmo para nos proteger”, disse.

Considerado o santo guerreiro e protetor, São Jorge é para os católicos um símbolo da força de Deus na luta em favor dos povos excluídos e marginalizados. Ele é personagem de diversas histórias medievais que perduraram no tempo e que inclui o famoso relato do combate com um dragão. Na versão mais difundida sobre sua figura, São Jorge foi um soldado romano que se opõe à perseguição que o imperador empregava aos cristãos. Preso e torturado, ele manteve sua fé inabalada.

No Rio de Janeiro, Quintino não é o único ponto de convergência de católicos devotos. Há festejos populares, feijoadas, rodas de samba e missas em igrejas e capelas em quase todas as regiões da cidade e também em outros municípios do estado.

Feriado estadual

São Jorge não é o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, posto que é preenchido por São Sebastião. Ai assim, devido à devoção popular, o dia 23 de abril foi declarado feriado municipal na capital em 2001. “Ele deveria ser o padroeiro. Você vê esse tanto de gente que se mobiliza por ele. E independentemente de religião, as pessoas o admiram”, opina a comerciante Carol França.

Carol lembra que São Jorge é também considerado um símbolo da luta contra a intolerância religiosa. Isso porque, em função do sincretismo, ele é também celebrado em festejos nos terreiros de religiões de matriz africana. No Candomblé e na Umbanda, ele costuma ser associado a Oxóssi e a Ogum, respectivamente orixás da caça e da guerra.

Em 2008, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) converteu a data em feriado estadual. Na época, projeto tramitou trazendo como justificativa a importância de facilitar o culto e a peregrinação dos devotos às igrejas católicas e aos terreiros de Umbanda e Candomblé. “A institucionalização deste dia como feriado estadual apenas coroaria o que já se concretizou pelos costumes da população e pelo reconhecimento da mídia. Ressalte-se que São Jorge é o santo mais popular”, registra o texto.

O cozinheiro Adilson Aureliano dos Santos acredita que a medida foi correta. “Não desmerecendo outros santos, mas ele é o mais comemorado. Tudo o que eu consegui na vida, eu agradeço a ele. É o que as pessoas mais se apegam e isso é porque se conseguem muitos milagres com São Jorge guerreiro. Você vê que a cada ano, o número de devotos cresce. Já virou feriado no Rio. Daqui a pouco, se duvidar, vai virar feriado nacional”.