Chico Buarque lança videoclipe oficial de ‘Caravanas’; veja

Horas depois de disponibilizar o novo álbum nas lojas físicas e digitais, Chico Buarque de Holanda apresentou, nesta sexta-feira (24), o videoclipe de “Caravanas”. Como nos vídeos anteriores, são imagens de bastidores, que descortinam a intimidade do processo de gravação. Chico aparece conversando com o diretor musical, maestro e violonista Luiz Cláudio Ramos. Ou trocando ideias com o pianista João Rebouças, o baixista Jorge Helder e o baterista Jurim Moreira. Em outras cenas, ele aparece em frente ao microfone.

A faixa-título do 38º álbum de estúdio do cantor e compositor carioca chama a atenção por letra, melodia, arranjo, métrica. Versos pungentes rezam: “Diz que malocam seus facões e adagas/ Em sungas estufadas e calções disformes/ Diz que eles têm picas enormes/ E seus sacos são granadas”, uma referência aos jovens mulçumanos no romance “O Estrangeiro” (1942), de Albert Camus (1913-1960).

O arranjo mescla cordas com a excelente beatbox de Rafael Mike Dtp, do Dream Team do Passinho. As nove faixas de “Caravanas“, que estavam guardadas dentro de um cofre no estúdio da Biscoito Fino para evitar pirataria, custam R$ 30. Notícias ao Minuto

Letra de “As Caravanas” com Chico Buarque


É um dia de real grandeza, tudo azul
Um mar turquesa à la Istambul
Enchendo os olhos
E um sol de torrar os miolos
Quando pinta em Copacabana
A caravana do Arara
Do Caxangá, da Chatuba

A caravana do Irajá
O comboio da Penha
Não há barreira que retenha
Esses estranhos
Suburbanos tipo muçulmanos
Do Jacarezinho
A caminho do Jardim de Alah
É o bicho, é o buchicho, é a charanga

Diz que malocam seus facões
E adagas
Em sungas estufadas e calções disformes
Diz que eles têm picas enormes
E seus sacos são granadas
Lá das quebradas da Maré

Com negros torsos nus deixam
Em polvorosa
A gente ordeira e virtuosa que apela
Pra polícia despachar de volta
O populacho pra favela
Ou pra Benguela, ou pra Guiné

Sol, a culpa deve ser do sol
Que bate na moleira, o sol
Que estoura as veias, o suor
Que embaça os olhos e a razão
E essa zoeira dentro da prisão
Crioulos empilhados no porão
De caravelas no alto mar

Tem que bater, tem que matar
Engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia
Ou doido sou eu que escuto vozes
Não há gente tão insana
Nem caravana do Arara