Estudante que jogou notas falsas no governador tem a casa invadida pela polícia

Policiais do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), armados de um mandado de busca e apreensão, assinado pelo juiz Elizer Fernandes Júnior, invadiram a casa do estudante Hinaldo de Castro Conceição, 20 anos, aquele audaz e destemido rapaz que promoveu uma chuvada de notas falsas de R$ 100 na cabeça do governador cassado, José Melo (PROS). E pra que?

O ultraje à cidania e ao direito de manifestação aconteceu na manhã de sábado, dia 06, na modesta residência localizada na Rua Igaraçu, Amazonino Mendes, na Zona Norte de Manaus, de onde levaram computador e celulares.

Igualzinho aos velhos tempos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), criado durante o Estado Novo e, depois, no Regime Militar de 1964, para controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.

Simplesmente por não concordar com a compra de votos, crime tipificado na legislação eleitoral que, aliás, cassou o mandato de José Melo, o gesto de indignação de um jovem estudante, como se ainda vivesse nos tempos de triste memória, do velho e carcomido Dops, foi transformado em crime de organização criminosa.

hinaldo post

Isso é no mínimo uma piada de mau gosto. Uma brincadeira sem graça, que merece o veemente repúdio de todos que não sentem a menor saudade dos sombrios e asquerosos porões do Dops que, em Manaus, insistem em ressucitá-lo.

Não seria mais plausível enquadrar e investigar a saúde pública do estado e, consequentemente, o próprio governador, face as incontáveis vidas ceifadas por falta de medicamentos, material cirúrgico, máscara de oxigênio, entre tantas mazelas que têm infelicitado muitas centenas de famílias que recorrem a esses serviço?

Claro que não. Basta lembrar o episódio do Jutaí, onde um médico, sem as menores condições de trabalho, resolveu improvisar duas máscaras de oxigênio para salvar duas vidas de um casal de gêmeos recém-nascido.

Sabedor de quem tem culpa no cartório, José Melo não hesitou em condenar o médico, pela morte de um dos gêmeos, sem direito à ampla defesa, como propugna para se safar da cassação.

E vejam o que disse em sua defesa: “se o médico tivesse usado o tele-medicina nada disso teria acontecido”. Em outras palavras, o dedicado profisional, médico, é um incompetente.

Enquanto o governador em mais de um anos de governo fecha os olhos para o caos na saúde, em um átimo de segundo manda instaurar Inquérito Policial para investigar uma Organização Criminosa, supostamente comandada por Hinaldo de Castro Conceição.

Uma verdadeira contradição, um acinte ao estado de direito, à democracia brasileira considerada uma das mais fortes de todo o mundo.

Bem diferente de um certo manisfestante que, ano passado, em Brasília, atirou notas falsas sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e nada lhe aconteceu, aqui em Manaus, um estudante é execrado à condição de criminoso.