A carta enviada pelo vice-presidente Michel Temer à presidente Dilma Rousseff, na qual o peemedebista se queixa de ter sido tratado como elemento “decorativo” e ter sido “menosprezado” pela petista, surpreendeu dirigentes, parlamentares e ministros do PMDB. Os mais próximos ao governo criticaram o tom do texto de Temer, que também é presidente nacional do partido.
Na carta, o vice relata uma série de episódios que demonstrariam, nas palavras dele, a “absoluta desconfiança” que Dilma sempre teve em relação a ele e ao PMDB.
Segundo o Estado apurou, num primeiro momento, alguns integrantes da cúpula da legenda chegaram a questionar até a autenticidade do texto. O teor da carta começou a circular no final da noite de ontem e chegou ao conhecimento das principais lideranças do PMDB, que se reuniam em diferentes jantares realizados em Brasília.
Num dos encontros, promovido pelo líder do PMDB do Senado, Eunício Oliveira (CE), estavam presentes os ministros do partido – Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde) -, à exceção de Henrique Eduardo Alves (Turismo), ex-deputado ligado a Temer que não estava na capital federal. Além dos ministros, esteve presente o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
Segundo relatos, o conteúdo da carta deixou a todos “atônitos”. Um dos trechos foi considerado “infantil” por parte dos presentes, no qual Temer se queixa de não ter sido chamado por Dilma para participar da reunião realizada no começo do ano com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem o peemedebista construiu “boa amizade”.
O tom utilizado por Temer na carta, segundo relatos, levou um dos presentes nesse jantar a colocar em questão a capacidade do vice vir a um dia assumir o comando do País, em função do teor e do tom do texto. Segundo integrantes do PMDB, Temer tomou a iniciativa de forma “solitária”, sem consultar lideranças do Congresso, ministros, governadores, nem integrantes da Executiva.
Senado. O mesmo sentimento de estarrecimento também foi percebida na reunião promovida na noite de ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao qual foram as principais lideranças do partido na Casa. A avaliação feita entre parte dos presentes foi a de que, com a iniciativa, Temer assumiu estar ao lado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por dar início ao processo de impeachment e “espatifou o PMDB”. Fora isso, a carta foi vista como uma forma de, indiretamente, fortalecer Dilma, ao “reforçar a imagem de que ele quer tomar a Presidência”, segundo um dos senadores presentes.(estadão)