Enquanto centenas de milhares de pessoas iam às ruas em diversos Estados brasileiros neste domingo em manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, militantes a favor do governo e contra os protestos dominavam a conversa na internet.
No Twitter, a hashtag #CarnaCoxinha, que ironizava os protestos, passou a maior parte da tarde no topo dos Trending Topics (assuntos mais comentados do momento) mundiais. Até às 18h, a expressão tinha quase 100 mil menções na rede social, conhecida pelo comentário em tempo real de eventos como manifestações.
Juntas, as hashtags #16DeAgosto, #ForaPT, #ForaDilma e #ImpeachmentJá, que reuniam principalmente pessoas favoráveis às manifestações e foram usadas por movimentos organizadores, tiveram cerca de 70 mil menções até o mesmo horário.
A expressão “CarnaCoxinha” foi usada principalmente por perfis ligados ao PT, como Dilma Bolada, Aécio de Papelão e MST (Movimento dos Sem-Terra). No entanto, a atuação dos perfis pró-governo no domingo não foi a única responsável por colocar o assunto entre os mais populares, segundo Fábio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic).
“Fatos políticos da última semana colaboraram muito para que a rede mais a favor do governo e contra os protestos se sobressaísse mais – o governo lançou a Agenda Brasil, se articulou com o Senado, teve uma vitória no STF. Isso enfraqueceu um pouco, na internet, a manifestação pelo impeachment”, disse à BBC Brasil.
“Já a primeira semana de agosto, quando aconteceu o panelaço contra o PT, foi ruim para o governo. Se o protesto tivesse sido domingo passado, ele poderia ter sido mais forte nas redes sociais.”
Outro fator determinante para o sucesso da mobilização contra os protestos, que se baseou na ironia e no humor, foi a viralização de um vídeo que mostrava manifestantes anti-PT fazendo uma coreografia nas ruas de Fortaleza, no Ceará, na última terça-feira.
“Um Tumblr (blog baseado principalmente no compartilhamento de imagens) foi criado com muitas versões ironizando a coreografia. Isso é um fato muito genuíno da internet e gerou a hashtag #VemProMico e outras, que desencadaram o #CarnaCoxinha. O viés do humor alavancou a rede, especialmente no Twitter, que abraça muito os memes”, afirma Malini.
A “reação antecipada” aos protestos no Twitter, segundo Malini, foi a principal diferença deste domingo em relação a outras manifestações abrangentes contra o governo, como as dos dias 12 de abril e 15 de março.
“No dia 15 de março, a reação organizada pró-governo na internet foi quase zero. Já no dia 12 de abril, a hashtag #aceitadilmavez foi lançada logo após a manifestação. Agora, a diferença é que a reação foi montada antes, com a mobilização do #VemproMico.”
Apesar da “vitória” dos ativistas pró-governo na batalha em tempo real durante as manifestações, Malini acredita que o cenário pode mudar nas redes sociais, à medida que manifestantes começam a voltar para suas casas e comentar a experiência nas ruas.
“As pessoas circulam os conteúdos e a adrenalina que sentiram na rua. Vão compartilhar suas fotos e relatos no Instagram, no Facebook e no Twitter. Mas a maior parte delas têm poucos seguidores e, por isso, a relevância desses relatos pode não ser tão percebida.”
Em outras palavras, não se pode desconsiderar a importância da presença dos ativistas nas ruas, para além da internet. “O caráter massivo do movimento antigoverno está posto, é concreto. A pauta do impeachment ainda não morreu, do ponto de vista de quem está na rua”, afirma (Fonte/ BBC Brasil).