Para fundadores do PT que deixaram a legenda e petistas insatisfeitos com os rumos do governo da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou se eximir da crise vivida pela sigla em sua intervenção, feita nesta segunda-feira, 22, em tom de desabafo durante uma palestra em seu instituto.
“Não dá para ele se isentar e jogar toda a culpa no PT. Lula ainda é a principal liderança e foi o principal condutor desse processo, desde a origem até hoje”, afirma a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Uma das primeiras prefeitas de capitais eleitas pelo partido em 1988, quando venceu a disputa em São Paulo, Erundina deixou o partido em 1997 depois de um longo processo de desgaste interno por ter aceitado um cargo no primeiro escalão do governo Itamar Franco.
Para a deputada, ao afirmar que e o PT “perdeu um pouco a utopia” e que os petistas “só pensam em cargo”, Lula está refletindo um quadro grave vivido pelo País. “A fala dele foi um sintoma da falência do PT. E esse sintoma chega para mim com muito mais contundência”, concluiu a ex-prefeita.
Também integrante da primeira geração de dirigentes políticos do Partido dos Trabalhadores, o deputado Ivan Valente, hoje no PSOL, faz a mesma leitura. “Esse é um discurso para consumo interno no partido, mas o Lula não pode se eximir da responsabilidade pelo PT estar vivendo essa crise monumental. O partido rebaixou o seu programa por orientação dele”, diz.
O parlamentar também comentou a reclamação do ex-presidente sobre a redução drástica da militância espontânea petista que marcou a sigla antes da chegada ao poder. “O maior responsável por tirar do PT o caráter da contribuição militante foi o próprio Lula. Foi ele quem implantou a lógica de ganhar eleição a qualquer custo”, conclui Valente.