Identificado apenas como Sávio, delegado foi flagrado em escuta telefônica com Adriano Salan acertando ida a festas e convidando garotas para a suíte do Afrodite
A casa caiu feio para Adail Pinheiro, assim como também para muitos dos que foram flagrados, em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, pedindo ou recebendo favores da quadrilha comandada pelo ex-prefeito de Coari.
Adail está preso, dois magistrados foram afastados de suas funções sob suspeita de favorecimento de sentenças para a quadrilha e praticamente todos os seus aliados políticos foram cassados e perderam mandatos eletivos no município.
No entanto, tem um personagem que passou incólume pelas investigações da Polícia Federal, embora tenha sido flagrado nas escutas telefônicas, gravadas pela própria PF, se utilizando do esquema para obter favores sexuais.
Trata-se de um delegado da Polícia Federal identificado nas gravações por Sávio, que não foi indiciado em nenhum processo, não foi afastado de suas funções e continua trabalhando normalmente, como se nada de grave tivesse acontecido.
Através de interceptações telefônicas gravadas pela PF durante a Operação Vorax, em 2008, fica claro que o delegado Sávio mantinha estreito relacionamento com o secretário de Governo do Município de Coari, Adriano Salan.
Ambos freqüentavam festas em Manaus e, mais grave ainda, costumavam participar de orgias na suíte executiva do motel Afrodite, onde Salan mantinha, na prática, seu escritório na capital.
O delegado da PF foi flagrado convidando uma amiga de Salan, de nome Carla, para encontrá-lo na suíte executiva do motel Afrodite.
Pelo teor da conversa, a moça deveria levar algumas amigas. Ela pergunta aonde. “No Afrodite, porra. Tu não sabe onde é o Afrodite”, diz o delegado. Mais adiante, Sávio explica que “a gente está naquela suíte melhor, naquela maiorzona (sic)”.
No final da conversa, o delegado reforça o convite dizendo “Vem tu pra cá, pô. Ta bom pra caramba aqui”, deixando escapar algo que soa meio enigmático: “pepinão”.
Em outra conversa interceptada entre os dois, o delegado Sávio informa a Adriano Salan que ainda encontrava-se no Rio de Janeiro e, por isso, não poderia assistir ao show da banda Scorpius, que se apresentou em Manaus. Entre amenidades, mas sem fugir ao seu caráter de cafajeste, Salan pede ao delegado um presente: “Uma carioca, parceiro, gostosa assim, top de linha, linda de praia, surfista”.
Depois o delegado diz não ter condições de ir ao show da banda Scorpius porque precisaria retornar ao Rio no dia seguinte, o que resultaria numa despesa de mais de R$ 1 mil com a compra de passagens aéreas.
É então que Salan, que não conhecia problema financeiro algum porque tinha como suporte o dinheiro do povo de Coari fala para Sávio: “Meu irmão, os amigos fazem cota pros amigos”. Através da escuta não fica claro se o delegado veio a Manaus assistir ao show, mas Salan confirma viajem ao Rio de Janeiro para passear.
O delegado também recebeu outros convites de Salan para participar de festas, inclusive um para desfilar pela escola de samba Grande Rio, do Rio de Janeiro, que homenageou o município de Coari no Carnaval de 2008. A princípio, Sávio esnoba o convite, mas Salan o convence a participar do desfile.
A homenagem da Grande Rio a Coari foi o ápice da farra com o dinheiro público e deu oportunidade para Adail Pinheiro convidar muitas autoridades amazonenses, com todas as despesas pegas, para desfilar pela escola carioca.
Festas eram rotina na cidade
Na época em que Adail Pinheiro era prefeito de Coari ele usava um método de governar tão antigo que se tornou clássico ainda durante o império romano, com mais de dois mil anos de uso e abuso. Era a velha, cínica e manjada fórmula de fazer festa para o povo, que assim, enquanto se divertia com atrações de pouco ou nenhum resultado cultural, esquecia os problemas decorrentes da péssima administração pública no município.
As festas promovidas em Coari por Adail Pinheiro e sua quadrilha tinham ainda um aspecto ainda mais mesquinho, porque enquanto o povão coariense se divertia ao som de banda Calypso, Berg Guerra, Jonas Melo e Solteirões do Forró, uma outra comemoração era destinada apenas para a elite.
Eram autoridades escolhidas a dedo pelo secretário Adriano Salan, e para elas não faltava nada: desde passagens, hospedagem, alimentação, bebidas, camarotes vips e, se fosse do desejo delas, até companhia feminina, de qualquer idade.
Os grandes eventos patrocinados pela prefeitura de Coari envolviam todo o staff administrativo do município e eram organizados diretamente por Salan, Haroldo Portela e Maria Lândia. Tinham um objetivo explícito: promover o município, mas dentro dos camarotes vips ocorria todo tipo de imoralidade: compra de sentenças judiciais, acertos e favorecimentos às autoridades constituídas, fraude em licitações, desvio de dinheiro publico e sexo, muito sexo, principalmente com as modelos contratadas para abrilhantar a festa.
Era tudo muito bem ao estilo de Adail Pinheiro e de Adriano Salan e, claro, toda as despesas pagas com dinheiro do povo de Coari, que se divertia nas festas, mais pagava um preço alto por isso. O município apresenta índices medíocres de desenvolvimento humano, embora seja o mais rico de todo o interior do Amazonas, resultado da política nefasta que era engendrada de dentro da suíte executiva do motel Afrodite.