No discurso que durou quase uma hora, aplaudido diversas vezes pela plateia composta por chefes de Estado e de Governo, e ministros do mundo todo, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participou neste sábado de manhã (6), em Roma, da abertura da 39ª conferência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Lula da Silva falou principalmente dos resultados do Brasil no combate à fome e à pobreza a partir do seu governo, continuando com a presidência de Dilma Rousseff.
À tarde, os membros da FAO confirmaram o mandato do brasileiro José Graziano da Silva como diretor-geral da entidade por mais quatro anos, até julho de 2019. Ele era o único candidato e recebeu 177 preferências entre os 182 países que votaram. A FAO conta com 197 países-membros.
A Conferência foi aberta pelo presidente da Itália, Sergio Matarella. Em seguida, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, discursou. Lula foi o terceiro a falar, e começou destacando os êxitos brasileiros, com um tom de orgulho nacionalista: “ Esta é uma ocasião para recordar a Fao e o Brasil, que é um dos 44 países fundadores desta grande organização na conferência de 1943. Na década de 50, aqui trabalhou, ao lado de Frank McDougall (um dos fundadores da entidade, ndr), o cientista brasileiro Josué de Castro, que escreveu dois livros fundamentais sobre o tema: “Geografia da Fome” e “Geopolítica da Fome”. Ele nos ajudou a compreender que a fome não é um fenômeno natural, é um fenômeno social resultado de estruturas econômicas desequilibradas. Ele já dizia que a fome e guerra são criações humanas”, disse, elogiando a contribuição de José Graziano da Silva ,eleito em 2012 à chefia da FAO .
Imprensa brasileira na mira de Lula
No entanto, Lula criticou abertamente, várias vezes, a imprensa brasileira. A primeira, ao falar da opinião dos jornalistas no empenho de José Graziano no Brasil como ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome. “ O companheiro José Graziano da Silva foi orientador do primeiro projeto de criação do Fome Zero, quando nós ainda não estávamos no governo. Só Deus sabe o quanto ele foi criticado pela imprensa brasileira porque disse que era preciso fazer uma doação em dinheiro para os pobres”.
Lula depois alfinetou mais fundo: “ O maior obstáculo que enfrentamos para implantar o nosso programa foi o preconceito por parte de um setor da imprensa no meu país, de setores na área intelectual, de alguns setores ricos da sociedade, que diziam que o Bolsa Família iria estimular a vadiagem, a preguiça e que o pobre não ia querer mais trabalhar, que aquilo era uma esmola do governo e que fazia parte da campanha eleitoral para que o Lula ganhasse as eleições. Vocês não imaginam a quantidade de matérias negativas contra este programa. Coitado do Graziano. Cada vez que ele entrava na minha sala com os recortes de jornal, parecia que o mundo tinha acabado. Eu nunca pensei que dar um prato de comida ao pobre causasse tanta intimidação àqueles que comem carne três vezes por dia”.
Lula lembrou que 12 anos atrás havia 11 milhões de famílias na extrema pobreza no Brasil. E falou dos avanços feitos no combate à fome e miséria desde 2003, quando foi assumida essa luta como prioridade de governo. “Estamos vendo crescer a primeira geração de brasileiros que não conheceram o drama da fome” disse. Segundo ele, é necessário incluir os pobres no orçamento público e não tratá-los como estatística, mas como seres humanos.