José Melo: Um delator disfarçado de democrata “paz e amor”

Por mais chato, controverso e entediante e na maioria das vezes sem eira nem beira, milhares de telespectadores aguardavam, ansiosos, pelo primeiro dia de propagada gratuita eleitoral.

Motivo?

Conferir algo a respeito dos candidatos majoritários e afins.

E como já era aguardo tudo ocorreu “como dante, no quartel de abrantes”.

Alguns falaram de suas origens, da família e da vida pública, sempre exitosa, como Eduardo Braga, o Marcelo Ramos, e o Abel Alves, por exemplo, enquanto outros aproveitam, mesmo, para largar a lenha, solapar e cair de porrada em seus “adversários”. Coisa da política, instrumento de manobra para impressionar.

Outros, como o Zé Melo, governador em transição e candito pelo PROS ao governo do Amazonas, reservou o seu privilegiado espaço para, languidamente, de olho grudado no teleprompter, para falar de seu longo – quase interminável – curriculum vitae.

Inspirado e embalado pela brisa soprada das cálidas águas do Rio Negro, num barco com algumas redes ao fundo – vejam só a empatia do candidato -, Melo esquadrinhou pari passu, do início ao fim, a sua vida pública.

É bem verdade, digamos, que naquele dia 19 de agosto, uma meia dúzia de “sacanas torcedores do contra”, por certo, aguardavam que Melo, de peito estufado e cabeça para cima, revelasse que no período negro da história recente do Brasil foi agente estruturador de uma máquina de delação e terrorismo no estado do Amazonas, mais precisamente na Universidade do Amazonas, antiga UA”.

Essa rede de delação chamava-se Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), ligada à Assessoria de Informação e Segurança (ASI), do Ministério da Educação (MEC), que por seu lado atendia as ordens do Serviço Nacional de Informação (SNI).

Ressalve-se que isto não é ficção jornalístida. Isto é a mais pura e límpida verdade.

Um habeas data de um anistiado político e ex-professor da UA, que o blog teve acesso, deixa claro, como a luz solar, o lado obscuro de uma história que Melo não quis revelar.

Nesses tempos – é o que mostra o habeas data -, professores da UA eram constantemente vigiados e censurados em suas atividades.

O medo era a atmosfera que respiravam nas salas de aula.

Nas redações de jornais ou nos estúdios de rádio e televisão as conversas ao pé de ouvido eram sempre no sentido de que “calasssem a boca” para muitos fatos considerados como atentado à liberdade e à dignidade humana.

Mesmo assim, bravos, brilhante e marcantes mestres que, sem destemor, arriscando muitas vezes as suas funções e até suas próprias vidas, mantinham a postura digna de serem verdadeiros em relação ao momento.

Narciso Lobo, Erasmo Linhares, Ribamar Bessa, o Babá, Deocleciano Bentes, Valmir Albuquerque, o Padre Ruas – todos eles importantes na formação de futuros jornalista e no compromisso com a causa da democracia e da liberdade – foram vítimas, como atesta o habeas data, dessa máquina de mentira e terror que se chamava AESI.

Os nomes deles e de muitos outros, não mencionados, estão lá, no habeas datas com todas as letras.

Esses professores e tantos outros, como Marcus Barros, Nelson Fraiji, Aloísio Nogueira, Arminda Mourão, por exemplo, várias vezes denunciados pelo chefe da AESI, receberam como prêmio aos seus trabalhos o SELO ou a MARCA dos cruéis delatores:  “fichados, comunistas, terroristas, esquerdistas, etc”.

Era assim que eram tratados pelo representante do SNI na antiga UA.

Muitos mestres não suportavam, não por covardia, mas porque tortura física e piscológica muitas vezes não é para todo mundo.

Essas MARCAS e esses SELOS, que se assemelham ao SELO da besta do Apocalípse, são e serão substituídos para sempre pelo grito irrompido do peito de todos aqueles que, hoje e ontem, passaram pela UA ou pela banca de jornal.

Será que tudo isso aconteceu mesmo?

Será que a Ufam era uma máquina de terror a serviço da ditadura?

Será que tem gente que ainda é capaz de levantar o estandarte dos tempos de chumbo, apoiar e votar em alguém que se colocou à disposição do terror e que, hoje, almeja governar o Amazonas através do voto livre do cidadão?

Bom, de tudo que foi relatado por certo alguns dirão: isso não passa de sensacionalismo barato, perseguição ao Melo. Ok! Ok! Ok!

Aos incrédulos uma dica:

1. Peguntem ao Melo se é ou não verdade?

2. Peçam uma Comissão da Verdade para Ufam que dirá timtim por timtim a respeito do fato.

Aí, sim, digam o que quiserem dizer da matéria, do blog e se não for verdade levem-nos, o blog e seus responsáveis, à barra da justiça para que respondam pelos seus atos