O Comitê da ONU sobre os Direitos das Crianças criticou nesta quarta-feira o Vaticano por nunca ter reconhecido a “amplitude dos crimes” de abuso sexual cometido contra crianças por parte de sacerdotes e acusou a Santa Sé de adotar “políticas e práticas que levaram à continuação de abusos e à impunidade dos responsáveis”.
Em seu relatório sobre o cumprimento da Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças por parte da Santa Sé, o comitê também afirmou que o Vaticano não tomou “as medidas necessárias” para solucionar os casos e proteger os menores.
O órgão da ONU denunciou o Vaticano pela transferência “de uma paróquia a outra, ou para outros países, de abusadores de crianças bem conhecidos, em uma tentativa de encobrir seus crimes”, uma prática que foi “documentada por várias comissões nacionais de investigação”.
Segundo os analistas do comitê, “a mobilidade dos responsáveis, que permitiu a muitos sacerdotes se manter em contato com crianças e continuar abusando deles, segue colocando crianças em alto risco de abuso sexual em muitos países”.
“Se reportou que dezenas de responsáveis de abusos sexuais seguem em contato com crianças”, afirmou o relatório, apresentado quase duas semanas depois do comparecimento de altos representantes do Vaticano perante o comitê, como parte de um procedimento ao qual se submetem periodicamente os Estados que ratificaram a convenção.
Em seu documento final sobre o Vaticano, o comitê se refere a “dezenas de milhares de casos” de abusos sexuais contra crianças por parte de membros das igrejas católicas que operam sob a autoridade da Santa Sé.
Sobre a quantidade exata de abusos cometidos, a presidente do comitê, Kirsten Sandberg, disse que a informação utilizada “provém de várias fontes, mas ninguém pôs todos (os dados) juntos para ter um número concreto”.
Outro aspecto criticado pelo comitê em suas conclusões foi o fato de que denunciar os casos descobertos às autoridades competentes “nunca foi obrigatório” e em certas circunstâncias inclusive foi rejeitado.
“Em muitos casos, as autoridades da Igreja, incluído a mais alta hierarquia do Vaticano, mostraram-se reticentes e, em alguns casos, rejeitaram cooperar com as autoridades judiciais e comissões de investigação”, detalhou o comitê.
Sandberg disse ainda que a delegação enviada pelo Vaticano para a avaliação realizada no comitê não ofereceu dados sobre o número de casos nos quais cooperou com as autoridades nacionais, o que deveria ter feito.