Quinta-feira, 20 de junho de 2013. Ninguém acreditava que em Manaus 100 mil pessoas ganhassem as ruas para protestar contra as mazelas sociais e políticas profundamente enraizadas nas estruturas de uma república asfixiada por escândalos de todos os matizes jamais registrados em toda história deste pais.
Nas ruas e avenidas pessoas de todas as idades e raças – estudante do jardim da infância (ainda é assim?), secundarista, universitários, profissionais liberais, funcionários públicos, maconheiro, prostituta, baderneiros, sarcerdote, batedores de carteira, pivetes, comunista e não comunista, gays, enrustidos, entre outros -, fizeram reverberar com toda a força de seus pulmões a indignação reprimida de anos de tolerância contra a falta de vergonha institucionalizada.
Reverberaram, uníssonos, contra o cinismo dos mensaleiros e de seus executores; contra a gastança abusiva que já chega a R$ 28 bilhões na construção de estádios de arquitetura faraônica; contra a decadência dos serviços estratégicos (transporte coletivo, saúde, educação); contra projetos no mínimo mirabolantes, como a PEC 37; contra a intimidade explicita do poder com bicheiros e outros do gênero.
Gritaram, enfim, contra os políticos agora perplexos e de rabinho entre as pernas diante do clamor popular.
Outras vozes, entretanto, não explodiram na avenida, estridentes. Elas permaneceram silenciosas, mudas, caladas.
A voz dos excluídos ou dos vagabundos, para muitos, permaneceu entalada no peito. Não por quê não tivessem vontade de soltá-la à pleno pulmão, como os estudantes e professores, enfermeiros e médicos, engenheiros e garis, camelôs e operários do Polo Industrial da Zona Franca de Manaus.
Não soltaram a voz porque já lhes faltam força de tanto gritar – todos os dias – e não serem ouvidos por ninguém.
Nas ruas e avenidas, eles cansaram de gritar – de gritar como cidadãos – por um chão para morar, por um prato de comida para comer, por uma cama para dormir, por dignidade, respeito à vida, amor e solidariedade humanitária.
Não foram ouvidos e calaram.
Esquecidos e desprezados, eles vivem e dormem nas calçadas e praças públicas como se nada mais restasse para eles.
Nas calçadas, eles dormem sobre pedaços de papelão, convivem dia e noite com o lixo, de onde tiram o alimento para sobreviver, disputam espaços com ratos e baratas, enfrentam nuvens de mosquitos e toda sorte de vicissitudes.
Os excluídos perderam a voz. Já não podem mais gritar.
Nota: participaram desta reportagem os repórteres fotográficos Sérgio Barboza Jr. e Márcio Rodrigues