Como as famílias estão lidando com o diagnóstico da Covid 19

Segundo Cláudia Barroso, psicanalista que lidera o Bem me Care, o impacto da notícia da Covid é realmente muito grande: “por ser uma doença nova, ter casos muito perigosos, muitas vezes sem que haja uma predisposição como se acreditava no início da pandemia, trazendo uma angústia muito grande, e tendo, por isso, uma recepção ainda mais angustiante por parte das famílias”.

Cláudia conta que precisou modificar alguns protocolos do Bem me Care por causa da Covid 19: “nós temos uma forma de trabalho muito focada e com tempo delimitado de sessões e de horas e foi preciso fazer adaptações para o momento”. Ela conta do caso de uma cliente que está com o marido internado há mais de 30 dias, sendo que eles nunca haviam passado mais de 5 dias separados: “cada família é diferente, cada caso é especial e precisa ser avaliado em sua peculiaridade, para que seja possível trazer o mínimo de equilíbrio familiar e mais calma para enfrentar a situação”, explica a psicanalista.

Os principais diferenciais do diagnóstico da Covid apontados por Cláudia são a incerteza: “a doença parece, muitas vezes, uma loteria. Não se sabe se a pessoa que positivou vai desenvolver a doença, quais serão os sintomas, se vai ou não precisar de internação, se mesmo com boas condições financeiras, vai ter leito disponível. Não ter nenhuma certeza abala profundamente as famílias”; e o medo: “do futuro, da própria doença, dos desdobramentos, do tempo de duração, tudo isso está muito presente na recepção do diagnóstico de Covid”, lembra ela.

Um outro fator importante que acompanha o diagnóstico da doença é a ausência dos rituais de despedida, que fazem parte do processo de luto. E a Covid tem tirado esse direito das famílias, apavora as pessoas e vai deixar sequelas, certamente”, explica Cláudia.

“Há a questão do isolamento. A Covid isola socialmente quem está doente, algo totalmente contrário do que aprendemos sobre o que é cuidar na nossa cultura. Quando alguém adoece, todos se mobilizam, querem estar perto, se revezam”, enfatiza a psicanalista, que reforça: “essa característica doença é muito dura, especialmente para a nossa sociedade, que tem um jeito caloroso de ser”.

Ela também lembra que, dependendo do caso, há uma questão de culpa envolvida, por não saber quem trouxe o vírus para dentro de casa. “Além do medo, da angústia, existe a culpa, que pode vir junto. O que vemos é uma mistura de incerteza, esperança no futuro, mas muito medo do que possa acontecer. Nosso papel é ser um pilar de estabilidade em meio a esse turbilhão que o diagnóstico traz e ajudar a receber a doença, seja no nível que for, de uma forma mais amena”, finaliza Cláudia.

Sobre Cláudia Barroso

Cláudia Barroso é Psicóloga Clínica formada pela Fundação Mineira de Educação e Cultura – FUMEC, com especialização em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Psicoterapia de Casal e Família. É Terapeuta Sexual, formada pelo Isexp e Psicanalista formada através de processo particular. Além de fundadora e idealizadora do projeto Bem me Care, é autora do livro “O impacto da má noticia médica na família. Uma visão psicanalítica”, tendo como co-autora Sonia Pires, além de gestora do Falhei & Disse – Reflexões Psicanalíticas com Entretenimento. Hoje atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias em seu consultório em São Paulo, atuando também de forma on-line.