Depois de muitos apertos de mãos, sorriso e trocas de elogios pautados por pompa e circunstância num encontro pensado em cada pormenor, Donald Trump e Kim Jong-un deixaram Singapura com um documento conjunto para mostrar não só internamente, nos respectivos países, como ao resto do mundo.
Kim Jong-un foi incisivo ao dizer que os dois países pretendem “deixar o passado para trás” e prosseguir o caminho do diálogo. Trump, por sua vez, garantiu que as nações estão prontas para “escreverem um novo capítulo da história”.
Horas após o final do encontro, com Kim retornando a Pyongyang, Trump apareceu perante os jornalistas para uma conferência de imprensa em que desvendou os principais detalhes da conversa que manteve com o seu homólogo norte-coreano.
Visivelmente bem disposto, o presidente norte-americano revelou que os Estados Unidos vão terminar as manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul na península coreana, uma das reivindicações principais de Pyongyang. Trump falou no “fim dos jogos de guerra”, apesar de as sanções contra o regime norte-coreano continuarem em vigor.
Além disso, de acordo com o documento captado pelos fotógrafos, Estados Unidos e Coreia do Norte comprometem-se “a estabelecer novas relações de acordo com o desejo do povo das duas nações quanto à paz e à prosperidade”.
Pyongyang manifestou disponibilidade em trabalhar pela total “desnuclearização da península coreana”, a maior ambição de Washington nestas negociações, sendo que Trump garantiu aos jornalistas que o processo de destruição de armas nucleares será acompanhado por observadores internacionais, contando, segundo o próprio, com as garantias de Kim.
Otimismo internacional… mas com cautela
As reações da comunidade internacional ao encontro de Singapura têm sido sobretudo de otimismo, apesar de o ceticismo pairar no ar, não estivessem os destinos das negociações na mão de um presidente que rasga acordos internacionais pelo Twitter.
Para Moon Jae-in, a “reunião histórica” de 12 de junho “pôs fim à Guerra Fria”. O presidente da Coreia do Sul elogiou a “coragem e determinação” dos seus homólogos norte-coreano e norte-americano, manifestando a intenção de prosseguir o diálogo na península coreana.
No mesmo sentido, embora com mais elogios aos Estados Unidos, o Japão elogiou a “liderança” do presidente Trump e pediu responsabilidade ao regime norte-coreano. De Pequim veio igualmente entusiasmo, tendo o porta-voz do ministério dos negócios estrangeiros sublinhado a criação “de uma nova história”.
Com a conferência do G7 ainda causando desconforto, a União Europeia, pela voz de Federica Mogherini, salientou o “passo crucial e necessário” para a estabilidade da região. A chefe da diplomacia da União Europeia elogiou ainda a “liderança, sabedoria e determinação do presidente da República da Coreia, Moon Jae-in”.
Já a Rússia fez um balanço positivo do encontro, mas sublinhou que “o diabo está nos detalhes”. Ou seja, Moscou espera por mais detalhes para perceber até que ponto as relações entre Estados Unidos e Coreia do Norte podem dar o salto para o degrau seguinte. No entanto, a diplomacia russa garante estar pronta a implementar o acordo estabelecido entre Kim e Trump.
A reação mais crítica veio do Irã, país que recentemente sentiu na pela a imprevisibilidade e falta de compromisso de Trump no que diz respeito a acordos internacionais. No mês passado, vale lembrar, o presidente norte-americano rasgou o acordo nuclear iraniano, estabelecido durante o mandato de Barack Obama, criando enorme expectativa e tensão nas relações internacionais. Por isso, Teerã, através de um porta-voz do governo, avisou Kim que Trump é “um homem que revoga a sua assinatura”, pelo que Pyongyang deve ficar alerta, porque nada é certo com a atual diplomacia norte-americana.