O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai reduzir todas as taxas de spreads de risco, exceto para os entes públicos. Os spreads de risco fazem parte da estrutura de preços das operações do Sistema BNDES e cumprem a função de cobrir a perda esperada com inadimplências.
O anúncio foi feito na manhã de hoje (8) pelo presidente da instituição, Dyogo Oliveira, em café da manhã com a imprensa. Segundo ele, a nova norma de Precificação de Risco de Crédito será aprovada na tarde de hoje (8), dentro da política de revisões periódicas na metodologia das taxas cobradas pelo banco, feita pelo menos uma vez por ano.
“Isso tudo é derivado da revisão das metodologias de análise de risco de crédito. A principal mudança é a incorporação da probabilidade de recuperação do crédito. O que a gente está vendo é uma queda geral da inadimplência no país. Isso impacta na metodologia porque você tem um risco mais baixo de inadimplência para cada nível de risco. Então, isso é um reflexo de uma melhora geral da avaliação de risco nas operações do banco”.
Segundo Dyogo Oliveira, a inadimplência no BNDES hoje está em 2%, “sendo que metade disso é do Rio de Janeiro, que tem garantia do Tesouro, então quer dizer que a inadimplência é de 1%”.
Para as operações diretas, onde o risco é mais elevado, o spread será reduzido de 25% a 50%, de acordo com o risco do cliente. “Uma empresa nível C, pegaria 3,5%; o triplo A fica por volta de 1%. Vai cair dependendo da avaliação da empresa”, explicou.
Para as operações indiretas, a taxa passa de 0,23% para 0,15% ao ano. Já a taxa para operações de fiança bancária feitas pelo BNDES passa de 0,4% para 0,25%.
Reestruturação
Como parte da reestruturação pela qual o BNDES está passando, com redirecionamento do foco de negócios para pequenas e médias empresas, Dyogo Oliveira disse que a intenção é “ocupar espaços onde o mercado não quer ou não tem condições de atuar”, de forma a atuar “de maneira sempre complementar e de maneira inclusive a fomentar o desenvolvimento do mercado de capitais”.
“Vamos usar cada vez mais instrumentos de mercado de capitais, como debêntures, participações em fundos de investimento, aquisição de cotas de fundos existentes. São instrumentos que permitem ao banco assumir uma posição no projeto durante a fase de construção, que tem maior nível de risco e menor apetite do mercado financeiro, para logo em seguida, à medida que o projeto se desenvolva e esteja amadurecido, o banco poder vender esse projeto no mercado”.
Dyogo Oliveira destacou que essas medidas reestruturantes também vão contribuir para a captação de funding (captação de recursos para investimento), no mercado internacional. “À medida que o banco atua dessa maneira, em um formato de crédito que seja securitizável, que seja possível de revender ao mercado, a gente consegue, com a reciclagem do dinheiro, manter o banco fazendo operação e financiando os projetos importantes para o país”.
O presidente do BNDES anunciou a criação da área de Reestruturação de Projetos e Desestatização, dentro da Diretoria de Mercado de Capitais. Hoje, já atuam no setor 30 técnicos e está previsto o aumento em 50%. “Essa área vai cumprir o papel de desenvolver os projetos de infraestrutura. Nós vamos contratar empresas de projetos, consultorias, e isso vai ficar na prateleira. À medida que nós formos selecionando junto com os governos federal, estadual, municipal, uma carteira de projetos prioritários, esses projetos imediatamente passam a ser desenvolvidos utilizando as empresas contratadas pelo banco. Então o banco vai assumir o papel que hoje não tem ninguém fazendo”.
Segundo ele, atualmente não há “nenhuma coordenação intragovernamental ou nacional” responsável por desenvolver projetos, “fazer os estudos de engenharia, jurídico, financeiro, que vão dar base para uma licitação, uma concessão, uma PPP”. O modelo adotado será o que já vem sendo usado pelo BNDES nos estudos sobre a privatização das empresas estaduais de saneamento.
“O banco vai assumir essa função que, a nosso ver, esta relegado. Hoje nós temos falta de projetos. Nos encontros que fazemos com investidores estrangeiros, eles têm apetite para investir no Brasil, mas são poucos projetos. São quantas rodovias para concessão, quantos portos, quantos aeroportos? Então, há uma percepção de que faltam projetos, e é a realidade, e o próprio banco tem dificuldades em aplicar recursos, porque faltam projetos”.
Dyogo Oliveira informou que este ano o BNDES dispõe de R$ 54 bilhões para financiar projetos de infraestrutura nos setores de saneamento, resíduo sólido, iluminação pública, estradas estaduais e presídios.